
CIDADE BAIANA PRESERVA A TRADIÇÃO COMO CAPITAL DO LICOR, CACHOEIRA VIVE PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO
Entre as ruas da histórica cidade de Cachoeira, no recôncavo da Bahia, um cheiro típico denuncia a época do ano: é tempo de festejos juninos, é tempo de licor. No sobe e desce das ruas de paralelepípedos tomadas de visitantes durantes os dias dedicados a festas do mês de junho, o aroma adocicado de frutas tropicais misturado com álcool dita os rumos da cidade.
Nesse período, Cachoeira é uma espécie de capital baiana do licor. O título informal ainda se torna coisa séria no dia 25 de junho, quando a capital do estado é transferida oficialmente para a cidade por conta dos festejos da Independência do Brasil na Bahia.
Não há informações sobre a presença do licor de Cachoeira nas lutas históricas por independência, mas é possível que ele já estivesse pela cidade. E o fato é que a bebida, hoje tombada como patrimônio histórico municipal, foi determinante em uma revolução social na cidade que tem apenas o 111º Produto Interno Bruto (PIB) do estado.
“Os donos dos grandes fabricos de licor de Cachoeira não são filhos dos donos dos antigos engenhos, nem das canas de açúcar do recôncavo. São pessoas humildes que não tinham dinheiro, são pessoas trabalhadoras, que acordam cinco horas da manhã e vão dormir duas horas da madrugada num período desse”, disse ao g1, José Luiz Bernardo, presidente da Associação dos Produtores de Licor de Cachoeira.
A tradição centenária vive ainda um momento de modernização. No ano passado, uma fiscalização do Ministério da Agricultura e Pecuária com a Polícia Federal interditou duas das maiores produções, a de Roque Pinto e a do Arraial do Quiabo.
Na ocasião, a ação recebeu críticas de produtores de licor, que alegaram que o MAPA descumpria prazos dados para adequações. O MAPA afirmou que a ação teve o objetivo de evitar o risco à saúde do consumidor e que processo aconteceu após denúncias de irregularidades na produção e comércio da bebida.
Um ano depois, a situação está pacificada e os principais produtores enquadrados nas recomendações da coordenação de Vinhos e Bebidas do Ministério da Agricultura e Pecuária, responsável por fiscalizar a produção.
“Eu acredito que hoje a indústria de Cachoeira ainda está num processo de pavimentação, de arrumação. Os produtores hoje já contam com a fiscalização ostensiva do MAPA. E hoje o licor de Cachoeira não mais um licor artesanal. Ele passa por um processo gigantesco de de adaptação e já não é o de vinte, trinta anos atrás”, detalha José Luis.