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DÉBORA MOTA: UMA GAROTA QUASE COMUM

Se aceitar é um caminho difícil, ainda mais em uma realidade tão repleta de preconceito. Ainda se fala tão pouco do estigma causado em pessoas com algum tipo de deficiência física, que nós nos sentimos indispostos a nos mostrar. O preconceito que eu sofri doeu, e muito, mas também serviu para me mostrar que eu sou forte”, conta Débora Mota (18), (@me.debhy), escritora santoantoniense que é também formada em técnica de administração e assistência financeira. 

Para Débora, diagnosticada desde o nascimento com artrogripose congênita, condição que atrofia os membros superiores e/ou inferiores, desistir nunca foi uma opção. “Eu sou uma garota quase comum que nasceu com um probleminha que poderia ser limitante, se eu olhasse só para ele. Eu sei que existem mais pessoas com artrogripose em várias partes do mundo, em situações piores que a minha, por isso eu tento focar no que eu posso ser com o que eu consigo usar de mim mesma: a minha mente”.

Infância de Débora
Débora na infância

Débora concluiu o ensino médio no ano passado, e logo pensou em ingressar na faculdade. “Sempre foi o meu plano, por isso eu não perdi tempo para começar a estudar para o Enem. Queria muito conseguir uma vaga para o curso de direito”, diz ela. 

Devido ao nervosismo na hora da inscrição para a prova, Débora acabou não especificando os detalhes sobre a sua condição física, situação que a levou a enfrentar alguns contratempos nos dias de realizar o Enem. “Passei por alguns minutos de muito nervosismo, já que a responsável pelo lugar quase não me deixa fazer a avaliação por não ter alguém para escrever para mim. Mas consegui convencê-la a me deixar fazer com a boca, já que eu sempre escrevi assim porque pra mim é mais confortável”, relembra. 

Débora escrevendo

Ainda assim, Débora conseguiu passar na prova do Enem, conquistando uma vaga na Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Infelizmente, embora tenha cursado todo o ensino médio em colégio público, a matrícula de Débora acabou sendo indeferida, por ter estudado em uma escola particular no ensino fundamental. “Agora eu estou tentando uma bolsa integral na faculdade Pitágoras”, conta ela. 

O mais difícil do meu período escolar foi, sem dúvidas, o preconceito. No início, quando eu era menorzinha, era mais fácil. Não existiam tantos olhares. Mesmo assim, já quis desistir centenas de vezes, mas não valia a pena parar”, revela.

Em 2019, Débora conseguiu uma cadeira motorizada dada pelo Centro de Prevenção e Reabilitação de Deficiências (CEPRED), sediado em Salvador. “Meu avô fez o pedido da cadeira quando eu ainda era criança. Mas só chegou em dezembro de 2019, facilitando muito meus dois últimos anos”.

Apesar de todas as dificuldades, Débora não se limita e as encara com muita coragem. “Uma vez eu enfrentei um dos meus maiores receios, o público. O medo do julgamento sempre me impedia de falar em público, mas, em 2019, no Centro Territorial De Educação Profissional Do Recôncavo (CETEP), eu tomei coragem e cantei pela primeira vez em uma competição. Não ganhei, mas valeu muito a pena. Tinha pessoas importantes me apoiando e torcendo por mim, e aquilo foi melhor do que qualquer premiação”.

Débora com a farda do CETEP

Além de corajosa e determinada, Débora também escreve e já tem um livro quase pronto. “Quero muito publicá-lo profissionalmente esse ano. Estou trabalhando nisso, caso alguma editora tenha interesse, estou disponível”, brinca ela. 

Tenho sonhos que quem tem que conquistar sou eu mesma e desistir nunca foi uma opção plausível à minha situação. Eu sou uma garota, quase comum, que passou e continua passando por dificuldades geradas pela falta de acessibilidade e informação, mas que, apesar disso, continua tentando ser a melhor versão de si mesma”, finaliza Débora. 

Victoria Mercês
25/03/2022

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