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NOVOS TEMPOS, NOVOS HÁBITOS

Uma nova forma de viver, imposta pela pandemia de um vírus desconhecido e que se espalha rapidamente, exigiu de todos a formação de novos hábitos. Com o isolamento social, um dos principais meios de prevenção contra a COVID-19, muitas pessoas passaram a ficar mais tempo em casa e como consequência, começaram a buscar formas de transformar o lar num ambiente ainda mais acolhedor. O cultivo de plantas ornamentais, flores e hortas ganhou o coração de quem ansiava por alternativas terapêuticas para enfrentar o medo e a angústia, além de proporcionar maior aproximação com a natureza e a ampliação do sentido do ato de morar. Bom para quem passou a cultivá-las. Bom para o mercado, que se fortaleceu num período de recessão.

Em março, logo no início da pandemia, o viveiro parou. Respeitamos o momento, estávamos em choque. A partir da segunda semana, começamos a notar que as pessoas estavam despertando o interesse por plantas ao fazerem perguntas e começarem a nos seguir nas redes sociais. Estamos aprendendo e convivendo com essa nova realidade, buscando alternativas de diversão no período de isolamento. De hobbie, passou a ser um ritual diário, uma alegria e um incentivo da vida para muitas pessoas”, afirma a empresária, Ilma Lima, proprietária do viveiro de plantas Rosa do Deserto.

O perfil do viveiro no Instagram, que na época tinha cerca de 2 mil seguidores, hoje tem mais de 16 mil velhos e novos amantes de plantas. Pessoas de diferentes localidades, dos mais experientes e conhecedores até aqueles que estão construindo agora a sua relação com o verde.

São pessoas como a professora Cláudia Pires, que sempre teve uma relação de ancestralidade com as plantas, a pandemia fez este vínculo se fortalecer ainda mais. Hoje, a casa de Cláudia é carinhosamente chamada de floresta e a faz se sentir mais próxima de sua mãe e da floricultura que ela tem na cidade de Valença. “Planta é algo que me dá paz, que me energiza, que me equilibra. Eu acho que planta é investimento no sentido de estar cuidando de mim, de fazer algo que eu gosto e que me dá prazer. Eu amo”, relata.

São orquídeas, cactos, peperômeas, antúrios, jabuticabas, costelas de adão, begônias, samambaias, espadas de São Jorge, lírios da paz… incontáveis espécies que ocupam cada canto da casa da família Pires. “Eu dizia sempre para meu marido: eu quero uma mata”, conta Cláudia. E é isso que hoje ela tem.

Os desejos e anseios da professora representam uma tendência social chamada “Urban Jungle”, que em tradução significa “selva urbana”. O sentido real é trazer a natureza para dentro de casa, viver o verde diariamente e sentir os impactos positivos que essa relação pode proporcionar.

“Essa rotina de cuidar de plantas é algo que me equilibra. Existe um movimento invisível que a gente não vê, mas sente. E esse movimento me ensina a entender sobre o tempo, me ensina a ter paciência, me ensina sobre espera. É um exercício saudável, inclusive, para cuidar da ansiedade nesse período de pandemia”, desabafa Cláudia.

E para o mercado, um respiro aliviado

Mudanças no comportamento do consumidor geralmente causam impactos no mercado. Para o segmento de plantas, essa construção do hábito do cultivar em casa representou um alívio para um setor que começou a sentir os impactos da crise causada pela pandemia do coronavírus.

Ilma Lima reforça que, no início, os impactos foram chegaram a ser sentidos, mas que essa mudança de hábitos e no modo como as pessoas passaram a se relacionar com a casa reverteu o cenário que poderia ser negativo.

“Vimos que, neste momento delicado, as plantas ornamentais e a jardinagem, voltaram com toda força. Percebemos um aumento da procura por plantas que há tempos estavam “fora de moda”, como a espada de São Jorge (Dracaena trifasciata), a costela de Adão (Monstera deliciosa), as Begônias (Begoniaceae) e, a velha amiga, Babosa (Aloe vera)”, cita Ilma.

Para ela, a criatividade também foi um fator relevante para o fechamento das vendas neste período. “Nos reinventamos. Passamos a fazer postagens diárias, consultoria e venda pelas redes sociais, com delivery ou retirada. Nosso público antes do início da pandemia era composto majoritariamente por mulheres e senhores. Estamos vendo a perda do tabu de que práticas de jardinagem eram exclusivamente “coisas de avós e avôs”. Agora, os novos “pais de plantas” são as crianças, que levam os pais, adolescentes e jovens adultos. Temos amigos e clientes de todas as faixa etárias, que estão descobrindo agora o prazer do contato com a natureza”, confirma.

Assim como Cláudia, Ilma também tem uma relação afetiva forte com as plantas que vai além dos vínculos comerciais. Ela vive o Rosa do Deserto Bahia e reconhece que os impactos sobre sua vida podem ser maiores do que imagina. “Temos o prazer e o orgulho de trabalhar com uma área tão especial. Sabemos da capacidade e o bem que as plantas tem de cuidar, integrar, harmonizar, embelezar e, por fim, de curar o ambiente”, finaliza.

Por: Daiane Dória – Group Auge

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