“Tamo Juntas é um projeto nascido pela inquietude de ver o meu privilégio e o das mulheres que eu atendo nessa minha andança pela saúde da mulher. Quando eu percebi que muitas mulheres não têm itens básicos de higiene, como absorvente, água corrente e sabonete, aquilo foi me gerando uma inquietação muito grande”, conta Fabiana Xavier, farmacêutica e aromaterapeuta que é uma das responsáveis pelo projeto.
Para Fabiana, que trabalha com a transição menstrual e já não utiliza há vários anos os produtos descartáveis, imaginar que muitas mulheres não tinham sequer um absorvente era algo que não a deixava confortável. “Me deixava entristecida, inquieta, aborrecida. Entrei em contato com projetos parecidos no mundo todo, pensei em me filiar a algum deles, mas seguindo os próprios conselhos das mulheres que encabeçam essas iniciativas ao redor do mundo, eu decidi fazer aqui em Santo Antônio, com mulheres daqui, para a nossa realidade”, explica.
Assim, Fabiana acabou convidando Carla de Quadros, que é ativista, professora da UNEB e militante feminista, à participar do projeto. “Assim nasceu o Tamo Juntas, com essa proposta de levar doações de absorventes, itens de higiene básica e educação menstrual para as mulheres que estão em vulnerabilidade tanto nas comunidades quanto em situação de rua”, diz a farmacêutica.
A dupla já tinha, desde o começo da iniciativa, a intenção de movimentar as políticas públicas da cidade. Segundo texto redigido pela professora Carla de Quadros, “Dados de pesquisas realizadas no âmbito nacional revelam que, ao menos 20% de meninas entre 14 e 24 anos que menstruam já deixaram de ir à escola por não terem absorvente. Entre pessoas pretas com renda de até dois salários mínimos, o número sobe para 24%”.
O projeto Tamo Juntas beneficia as mulheres que menstruam e estão em vulnerabilidade. “Ou porque já nasceram em vulnerabilidade ou porque se tornaram vulneráveis por conta da pandemia, que elevou o aumento da pobreza menstrual”, explica Fabiana.
“Hoje atendemos em seis comunidades, com pessoas pré-cadastradas por líderes comunitários. Esse número varia muito de mês a mês, pois tem meninas que passam a menstruar ou até mesmo mulheres que não menstruavam mais e voltaram a menstruar”, conta ela.
O grupo também atende as mulheres que estão em situação de rua, esse número também é relativo, já que varia todo mês. Além disso, o projeto conseguiu contemplar também as mulheres que ficaram vulneráveis por conta do desastre causado pelas fortes chuvas no Vale do Jiquiriçá.
Para Fabiana, “A importância do projeto é levar um pouco de dignidade e reduzir a pobreza menstrual, além de levar educação para essas pessoas que não têm acesso. São mulheres que não tem renda fixa, que tem que abrir mão da alimentação, muitas vezes, para comprar absorvente. São meninas que deixam de ir às escolas e mulheres que utilizam um mesmo absorvente interno por cinco dias, por falta de escolha”.
Existem várias maneiras de ajudar o Tamo Juntas, entre elas, a divulgação do projeto e a doação de produtos e absorventes. “Nós não recebemos e não autorizamos o recebimento de doações em dinheiro. Você pode doar absorventes e outros itens de higiene”, ressalta Fabiana.
“Você que tem uma empresa, podendo ser física ou online, pode virar uma “Empresa Amiga da Mulher”, que é quando você se compromete a doar um valor fixo por mês para um projeto. A gente hoje tem empresas que doam uma caixa fechada de absorventes todos os meses, e que colocam também nos seus locais de atuação, um ponto de coleta”, sugere a aromaterapeuta.
Fabiana ainda diz que “Se você tem algum projeto ou uma profissão que possa beneficiar essas mulheres da comunidade, seja oferecendo um atendimento médico, uma massagem, uma aula, uma música, uma oração ou seja lá o que você tenha de bom para proporcionar que agregue valor físico, emocional e espiritual para todas elas, você está convidado pelo Tamo Juntas”.
Victoria Mercês
14/03/22
