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UM SONHO DE METAL

Gabriel e suas motos, mas que união feliz. Parafrasear a icônica canção Vital e sua moto de Os Paralamas do Sucesso foi o modo que encontramos para definir o que sentimos ao ver e ouvir Gabriel Marttins falar sobre motocicletas. Fotógrafo, marceneiro, pai de Nalu e louco por motos, é desta forma que ele se descreve na biografia de seu perfil no Instagram. Para um homem com tantas paixões, uma síntese: inquieto. Inquietude que levou Gabriel a querer transformar as motos que teve ao longo da vida em peças únicas, exclusivas e cheias de personalidade. A bordo da garupa de uma Boneville 900 imaginária, escutamos atentamente as histórias do menino que cresceu apaixonado pela liberdade de estar sobre duas rodas. Pegamos estrada com ele. Sentindo o vento no rosto e assistindo a paisagem se transformar ao som do ronco do motor, te convidamos a fazer essa viagem conosco. Na moto ao lado, uma CB 450 totalmente customizada, as chaves e o capacete te esperam.

Desde menino, até depois do homem

“Essa paixão começou na infância. Ainda hoje, tenho uma foto que capturou uma das minhas melhores lembranças da época. Lembro do dia em que escolhi o carrossel de motos ao invés do de cavalos no parque de diversões. Eu consigo reconhecer a sensação. Uma moto do meu tamanho! Parecia que eu estava realmente pilotando. Meu pai gostava de me ver assim. As memórias afetivas mais fortes que tenho da minha infância com meu pai são ligadas a moto”, conta Marttins.

O pai de Gabriel, Fernando Martins, é figura constante nos relatos de Gabriel ao falar sobre sua relação com as motos. Segundo ele, Fernando costumava levar, com frequência, as motocicletas grandes e potentes dos amigos para que seus filhos pudessem ver. “O mais engraçado é que hoje ele é quem menos me incentiva a ter moto por medo que eu sofra algum acidente. Sempre que falo em comprar uma moto, meu pai sugere que eu compre uma Biz”, relata. A Biz faz parte da história dos dois. Esta foi a primeira moto que Fernando deu para Gabriel quando ele ainda tinha 10 anos. “Parecia gigante em relação ao meu tamanho”, comenta aos risos. Na Honda Biz, Gabriel aprendeu a pilotar e embarcou em uma viagem sem retorno, a do amor por estar sobre duas rodas. Uma viagem que o levou a conhecer lugares e explorá-los de um modo muito singular. As motos, as suas paixões, agora carregam seu sobrenome. São como filhas, resultados de um projeto pessoal que a cada km rodado, vai se transformando em mais uma de suas aventuras profissionais bem sucedidas: a MRTTNS Customs.

“Se não tem, nós faz”

“Tenho 35 anos. Ando de moto há 25. Comecei com 10 anos, e como era uma criança ainda, não trabalhava e não tinha dinheiro para deixar as motos do jeito que eu queria. A maneira que encontrei para customizar, foi colocando adesivos. Em 2001, meu pai comprou uma CG e eu furei o cano da descarga com um prego, serrei o paralama e emendei pra ele não perceber. Tomei umas broncas, mas depois ele entendeu o meu desejo em deixar a moto do meu jeito. Para minha surpresa ele acabou colocando uma descarga esportiva na moto e eu fiquei ainda mais feliz”, relembra Gabriel. Foi dessa forma, mesmo que ele ainda não soubesse, que a MRTTNS Customs engatinhava os primeiros passos. Com o tempo, as customizações foram ficando mais refinadas e outros acessórios começaram a entrar em cena. Em 2006, Gabriel comprou a sua primeira moto e as transformações avançaram ainda mais.
Em 2012, comprei uma Falcon 400, após um bom tempo longe das duas rodas. Era inicialmente uma moto vermelha. A transformei numa máquina completamente diferente. E foi para customizar essa moto e deixá-la do jeito que projetei que comecei a fazer as primeiras importações de peças”, conta.
Cada projeto é, para Gabriel, a realização de um sonho que antes da execução, exige muita pesquisa e estudo de viabilidade. “Uma das maiores lições que trago pra minha vida de minha mãe é que ela sempre falava: você não é igual a todo mundo. Então, se a fábrica não faz do jeito que eu quero, vou lá e faço. Se não tem uma moto na cor ou no estilo que eu quero, eu vou fazer”, explica.
A inspiração surge de muitas influências internacionais que ele adequa a sua realidade, necessidade e objetivos. “Primeiro eu defino o estilo, em seguida escolho a moto base. E às vezes, também, acontece o contrário. Penso: eu quero uma moto dessa, nesse estilo. Projeto, faço o desenho e depois executo para que fique o mais próximo da ideia inicial ou até supere minha expectativa. Minha maior motivação é fazer algo inédito que não seja igual ao que já existe no mercado. Algo que onde eu chegue, as pessoas notem que aquela é uma moto diferente”, relata Gabriel com brilho nos olhos.

Projetos na estrada

Inicialmente, Gabriel não tinha a pretensão de se desfazer dos seus projetos. As motos customizadas ao longo do tempo eram feitas para seu próprio uso, seguindo um estilo próprio e muito característico. Transformar a paixão em negócio surgiu a partir do conselho de um amigo que o orientou a permitir que seus projetos ganhassem a estrada e rodassem o mundo pilotados por novos donos.
“Após a primeira venda de uma moto projetada e customizada por mim, decidi que começaria a fazer motos para outras pessoas. No meu estilo, do jeito que eu gosto, com meu nível de acabamento, respeitando, claro, os sonhos e aspirações dos meus clientes e permitindo que essas motos ganhem o mundo”, explica.
Gabriel chegou a ter seis motocicletas customizadas, todas elas batizadas carinhosamente por sua filha Nalu: a CB 450 (Bertoleza), a Boneville 900 (Bertoleza II), a Falcon 400 (Grampola), a Speed Triple 1050 (Maria Alice), a Intruder 125 (Trudinha) e a Burgman 125 (Piu-Piu).
As motos projetadas por Gabriel chamam atenção por sua personalidade, irreverência e ineditismo. Todas elas são, hoje, muito diferentes do modelo fabricado em massa e comercializado em concessionárias. São motos únicas, com estética diferenciada, mas com sua funcionalidade preservada. “A estética, para mim, é fundamental, mas elas precisam ser funcionais. Precisam ter a praticidade conservada e não ter a sua dinâmica e pilotagem comprometida. Eu faço motos com estilo, com um designer bacana, mas que sejam feitas para serem usadas no dia-a-dia”, afirma.

Filha de peixe, usa capacete

Tudo aconteceu de forma muito natural, segundo Gabriel. Mas o fato é que Nalu, sua filha, reforça a máxima que diz que a paixão pelas duas rodas é geracional. Ao que parece, Nalu herdou o amor do pai pelas motos e já demonstra muita personalidade nas suas escolhas. “Ela tem 12 anos. Com 10 já começou a andar em Trudinha. Mas o primeiro contato dela pilotando foi na Scooter que montei para Nalu e para a mãe dela quando tinha apenas seis anos. Isso é tão forte e já está no sangue que em sua primeira aula já percebemos que já tinha noção de acelerar, de andar, de frear. É algo muito nato em minha família. Todos aprendemos a andar de moto com uma naturalidade muito grande. Com Nalu não foi diferente”. Se o futuro de Nalu já começa a ser traçado com a liberdade de quem ama andar sobre duas rodas, o da MRTTNS Customs segue em paralelo. O que era um hobbie, tem ganhado contornos de um negócio que já faz os olhos de Gabriel brilhar e imaginar customizando motos até os últimos dias de vida enquanto partilha com seus filhos e netos esta mesma alegria e paixão. A customizadora de motos já tem alguns projetos vendidos e muitos sonhos pessoais do próprio Gabriel como próximas missões a serem cumpridas.

“É algo que sou apaixonado e me realizo muito fazendo. Eu me vejo velhinho mexendo nas minhas motos, customizando, metendo a mão na massa, fazendo algo manual e muito identitário nelas, cortando, soldando, pintando… Quem sabe daqui a alguns anos, eu seja um customizador de motos muito conceituado na Bahia, no Nordeste e no Brasil inteiro? Porque é um projeto de vida ter esse reconhecimento e poder proporcionar às pessoas a experiência da liberdade que é andar de moto, mas sobretudo, da experiência de andar de moto em um veículo que foi feito especialmente para você”, finaliza.

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