Casa de campo com tipologia construtiva guarani é exemplo de sustentabilidade
As limitações de uma área de proteção ambiental guiam a reforma deste refúgio em Cunha, no interior paulista, assinada pelo escritório Messina Rivas. Uma boa dose de criatividade, materiais locais e a sabedoria de oleiros da região compõem o resultado
Preservar é verbo usado no modo imperativo neste pequeno sítio em Cunha, interior de São Paulo. O riacho que atravessa o terreno o transforma em Área de Preservação Permanente, ou APP, para os familiarizados com o termo. Pela lei, isso significa que nada de novo pode ser construído no lote sem que esteja pelo menos 30 m afastado das margens de água corrente. “Na prática, preservamos as volumetrias preexistentes e demos a elas novas vocações. O antigo galinheiro virou casa principal e onde hoje está a lavanderia ficava a horta, por exemplo”, conta Rodrigo Messina, arquiteto e sócio de Francisco Rivas no escritório Messina Rivas, autores do projeto.
Mas, para além de uma obrigação prevista em lei, conservar, aqui, também é sinônimo de prazer e aprendizado. Em vez de colecionar pegadas de carbono importando de longe madeira para a reforma, os arquitetos aproveitaram os eucaliptos que cresciam na área – e poderiam prejudicar o riacho local com sua vasta demanda por água, daí a autorização para o corte – e deram novo uso ao material. “Exageramos um pouco no dimensionamento das madeiras, visto que elas não passaram por provas de cargas, e o efeito visual mais robusto casou bem com o clima local”, avalia Francisco.
Ao aprender a lidar com a natureza local, se poupa energia – a elétrica e a dos seres vivos que ocupam o espaço, premiados com liberdade para viver com mais leveza e conforto. Basta ver, por exemplo, que um simples deslocamento de pedras foi capaz de empoçar a água do riacho em quantidade suficiente para criar uma piscina natural de água corrente, atração das melhores em dias quentes. Imagine o desgaste caso alguém resolvesse implicar com o riacho que passa no terreno, origem de tantas limitações construtivas – e tantas outras benesses no dia a dia. “Não lutar contra o que parece impeditivo pode revelar potências”, finaliza Rodrigo.
*Matéria originalmente publicada na edição de julho/2024 da Casa Vogue (CV 463),