
FAZER MORADA
Há muito tempo, o desejo de um “bem imóvel” foi substituído pelo desejo de um “bem-estar”. A casa é estática e o lar é fluido; estes serão os movimentos que nortearão as pessoas que habitarão o planeta do futuro. Cheio da ancestralidade, esse sentimento que permeia o inconsciente coletivo validou o anseio por um lugar onde, ao final de cada busca, possamos deixar a nossa ansiedade descansar. No futuro, a casa será um cenário transformado pelos diálogos dos seus protagonistas. Transitaremos entre horizontes, culturas e sentimentos em diferentes momentos da evolução. E, não apenas metaforicamente, precisaremos mudar. A casa planejada fará parte de uma realidade líquida. Assim também serão as experiências dos seus moradores. Afinal, num mundo de tantos caminhos, conexões e possibilidades, seria utópico acreditar que, sendo livres, viveríamos longos anos no mesmo local. Entretanto, todos sempre iremos necessitar de um lar que possa nos acompanhar pelo mundo, em qualquer paisagem onde desejarmos fazer morada.
Desejaremos uma residência que, tal como nós, humanos inconstantes e imperfeitos, esteja em permanente evolução. Uma morada que seja o equilíbrio perfeito entre a ordem, o caos e que possa ser bagunçado por questões próprias. Construiremos uma residência que nos receba introspectivo ou festivo; individual ou coletivo; enraizado ou global; que possa mudar de aura, de estilo, de discurso e de cores. E, assim, que possa evoluir junto às emoções particulares. Viveremos num lar onde caibam todos os sonhos; onde eles possam viver integrados com amores, medos e verdades. Nesse ambiente, estaremos fortes ao sair e felizes ao voltar. De portas abertas, buscaremos um lugar de proteção e liberdade. Mas no fi nal das contas, independentemente de onde tirarmos os sapatos e despirmos a alma, um lar será onde o nosso coração estiver.
CARLA SAMALLI – ESCRITORA E PESQUISADORA
Instagram: @CARLASAMALLI