
Por que as Crianças Percebem o Tempo de Forma Diferente dos Adultos?
A forma como percebemos o tempo muda ao longo da vida, e as crianças parecem vivê-lo de maneira mais intensa e prolongada. Para muitos, essa sensação de que o tempo “se arrasta” na infância é uma lembrança vívida, marcada por verões infinitos, dias repletos de brincadeiras e uma espera ansiosa pelos aniversários e festas de Natal. Mas por que, exatamente, o tempo parece passar mais devagar para as crianças?
Pesquisadores como Teresa McCormack, professora de psicologia da Queen’s University Belfast, na Irlanda do Norte, acreditam que essa questão ainda é pouco estudada. McCormack aponta que, enquanto os adultos têm uma compreensão mais clara de passado, presente e futuro, as crianças, por outro lado, ainda estão desenvolvendo essa noção. Elas são capazes de se orientar por rotinas diárias, como horários de refeições e de dormir, mas não possuem a mesma percepção de um tempo linear que estrutura a vida adulta.
A professora Sylvie Droit-Volet, da Université Clermont Auvergne, na França, também explorou essa diferença. Suas pesquisas mostram que as emoções desempenham um papel crucial na forma como as crianças vivenciam o tempo. Quando estão imersas em atividades prazerosas, os minutos podem parecer voar; já em momentos de tédio ou espera, o tempo se arrasta de maneira dolorosa. Isso se deve ao fato de que, para os mais jovens, o estado emocional influencia diretamente a percepção da passagem do tempo.
No entanto, à medida que crescem e começam a se adaptar a ambientes com horários fixos, como a escola, essa percepção vai se ajustando. O controle do tempo, os intervalos para atividades, as aulas e até mesmo os intervalos estruturam o dia das crianças e, eventualmente, a forma como elas lidam com o tempo começa a se aproximar da experiência adulta.
Outro ponto relevante levantado por Zoltán Nádasdy, professor de psicologia na Universidade de Loránd, em Budapeste, está relacionado à memória. Nádasdy sugere que o tempo parece mais longo para as crianças porque seus cérebros ainda estão aprendendo e registrando uma enorme quantidade de novas experiências. Cada nova vivência forma memórias intensas, que contribuem para a sensação de que um dia ou uma semana foram incrivelmente longos. Para os adultos, com menos experiências inéditas e uma rotina mais estável, o tempo pode parecer comprimido, passando rápido demais.
Além disso, o desenvolvimento físico também influencia a percepção do tempo. Adrian Bejan, professor de engenharia mecânica na Universidade Duke, nos EUA, explica que, conforme envelhecemos, a taxa com que recebemos “imagens mentais” dos estímulos do ambiente diminui. Ou seja, à medida que o cérebro processa menos informações por segundo, o tempo parece correr mais depressa.
A compreensão sobre como o tempo passa é, em última análise, um reflexo de como vivemos cada momento. As crianças, com suas mentes abertas à novidade e aos estímulos, vivem o presente com intensidade. Para os adultos, talvez o segredo para desacelerar o tempo esteja em redescobrir essa mesma vivacidade, buscar novos desafios e experiências, e dar atenção aos pequenos detalhes do cotidiano.
Explorar a percepção do tempo através dos olhos das crianças pode nos ensinar a desacelerar e apreciar mais a vida. Afinal, como bem sabemos, o tempo não para – mas podemos escolher vivê-lo de maneira mais plena.