
INVISÍVEL AOS OLHOS
“A hora da cegolândia” e “mitos e tabus sobre a cegueira” são os nomes de dois quadros existentes no canal do YouTube da Associação Santoantoniense dos Deficientes Visuais (ASDEV) em que, respectivamente, são compartilhadas histórias e informações didáticas a pessoas videntes e não videntes. A plataforma difunde os ideais da ASDEV, instituição que discute a deficiência como parte da diversidade humana e atua em prol da garantia e igualdade de direitos e deveres. Fundada em 2001, a ASDEV surgiu na Escola Lions Clube Aurélio Pires, fruto do anseio do presidente fundador Josiel Barreto, 50 anos, de promover ações contínuas e educativas – a exemplo dos vídeos no YouTube – sobre e para a pessoa com deficiência visual. O lampejo inicial para a fundação da associação veio a partir de um curso de braille promovido pelo professor João Prazeres, que é deficiente visual.
A trajetória de Josiel Barreto, funcionário público e um dos principais porta vozes sobre os direitos da pessoa com deficiência na Bahia, denota que o engajamento junto à ASDEV decorre do significa do pessoal desta luta. “Eu já vinha de uma exclusão porque tive que parar de estudar aos 12 anos por não haver um trabalho específico para deficientes visuais na escola”, narra. Josiel é deficiente visual há quase quarenta anos.
Em parceria com a UNEB, a associação já realizou cursos para intérpretes na Língua Brasileira de Sinais (Libras). Junto com o Rotary Club local, a ASDEV doa bengalas, capacitando os usuários acerca do uso do instrumento, e cadeiras de rodas e de banho para quem tem dificuldades de locomoção e está em situação de vulnerabilidade social e econômica.
“O Rotary Club de Santo Antônio de Jesus conheceu o trabalho da ASDEV no ano de 2017 através do então presidente Josiel. Naquela oportunidade, estávamos realizando o evento Flores Holambra, e no qual transformamos a renda em cadeiras de rodas e banho, doadas durante todo o ano”, reconta José Carlos Júnior, presidente do Rotary Club local. “No ano passado, doamos 20 unidades e esse ano doaremos mais 20, ou seja, esse já se tornou um projeto do Rotary Club local”, completa.
PARCERIA COM A UFRB
A professora Josineide Vieira Alves, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), conheceu Josiel Barreto em 2009 e o convidou para participar de uma aula na universidade.
A ponte estabelecida entre ambos resultou no desenvolvimento de vários projetos de estágios para estudantes de Psicologia e de extensão que consistem na escuta das histórias de vida dos adultos que frequentam a ASDEV.
“Como produto, organizamos um material escrito, impresso, contendo as narrativas”, detalha a pesquisadora. Ela se refere a um livro impresso com ao menos sete histórias e cuja expectativa é ser veiculado em braille. “O livro contribui para que as pessoas em geral percebam as diversas potencialidades do cego e como as suas limitações são produzidas pelas barreiras que construímos socialmente”, pontua.
PROJETO DE EMENDA
O impacto da ASDEV na efetiva participação social da pessoa com deficiência se revela, por exemplo, no depoimento do advogado Djalma Santana, atual vice-presidente da associação. Aos 11 anos de idade, ele teve uma toxoplasmose – infecção com um parasita comumente encontrado em fezes de gato e alimentos contaminados – e passou a ter baixa visão no olho. Anos mais tarde, uma pancada na cabeça o fez perder toda visão. Djalma é autor de um projeto encaminhado ao Senado por meio do parlamentar Romário. Alçado à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 34 de 2016, o projeto visa instituir a reserva de cadeiras parlamentares para pessoas com deficiência na Câmara dos Deputados; nas assembleias legislativas; na Câmara Legislativa do Distrito Federal e nas câmaras municipais nas quatro legislaturas subsequentes.
DIREITOS
Para Josiel Barreto, apesar das importantes ações de assistência, o maior projeto que a ASDEV tem visa a defesa de direitos da pessoa com deficiência, inserindo-a em espaços de debate. “Todos os conselhos importantes da cidade têm a participação da ASDEV”, salienta. Para a advogada Ionara Peixoto, membro do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres, ter mulheres deficientes no colegiado já sinaliza a importância de assegurar essa cadeira para que as demandas específicas sejam consideradas.
GOLBOL
Na Bahia, uma das cinco entidades que promovem o golbol (ou goalbal), esporte adaptado para a pessoa com deficiência visual, cega e de baixa visão, é a ASDEV. Ele conta com ao menos nove atletas e é um meio para inserir a pessoa com deficiência na sociedade. Em junho, seis equipes baianas, incluindo a santoantoniense, foram a Recife para participar do Torneio Regional Nordeste de Goalball, nas dependências da Universidade Federal de Pernambuco.
Por: Edvan Lessa | Jornalista