SETEMBRO AMARELO; CONHEÇA 5 MITOS SOBRE O COMPORTAMENTO SUICIDA
Nos últimos 20 anos, os suicídios no Brasil subiram de 7 mil para 14 mil, segundo dados do Ministério da Saúde. O Brasil está na contramão do mundo nesse quesito, uma vez que a média mundial de suicídios teve uma queda de 36% entre 2000 e 2019, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O comportamento suicida envolve uma complexa interação de fatores psicológicos e biológicos, inclusive genéticos, culturais e socioambientais, explica a psiquiatra Danielle Admoni, especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). “Estima-se que de 15 a 25% das pessoas que tentam suicídio cometem nova tentativa no ano seguinte, e 10% conseguem consumar o ato em algum momento no período de 10 anos, compreendido entre a tentativa anterior e o suicídio consumado. Ao longo da vida, de cada 100 pessoas, 17 chegam a pensar em suicídio”, relata.
Depressão
A depressão, tida como uma das doenças mais incapacitantes do mundo pela OMS, é a principal causa de suicídios, seguida pelo transtorno bipolar e abuso de substâncias. A condição pode ser resultado de alterações nos neurotransmissores do cérebro (como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina, responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar) ou de fatores como genética, problemas pessoais graves, traumas, abuso de substâncias lícitas e ilícitas, entre outros.
Segundo a psiquiatra Danielle, erros e preconceitos vêm sendo historicamente repetidos, contribuindo para a formação de um estigma em torno da doença mental e do comportamento suicida. “Em pleno século XXI, numa era em que temos acesso facilitado a todo tipo de informação, o preconceito com as doenças mentais e com as terapias ainda persiste. O estigma resulta de um processo em que as pessoas passam a se sentir envergonhadas, excluídas e discriminadas. Isso acaba intimidando e impedindo pessoas portadoras de transtornos mentais a buscarem tratamentos adequados”, destaca.
Veja 6 mitos elencados pela especialista sobre o comportamento suicida:
Quando uma pessoa pensa em se suicidar, terá risco de suicídio para o resto da vida.
Falso. O risco de suicídio pode ser eficazmente tratado e, após isso, a pessoa não estará mais em risco.
As pessoas que ameaçam se matar querem apenas chamar a atenção.
Falso. A maioria dos suicidas fala ou dá sinais sobre suas ideias de morte. De alguma forma, boa parte dos suicidas expressou seu desejo de se matar, seja para médicos, familiares ou amigos.
Se uma pessoa que pensava em suicidar-se, em um momento seguinte passa a se sentir melhor, significa que o problema passou.
Falso. Se alguém cogitou o suicídio, mas depois aparenta estar tranquilo, não significa que tenha desistido da ideia. Uma pessoa que decidiu suicidar-se pode se sentir aliviada simplesmente por ter tomado a decisão de se matar, passando aos outros a impressão de que já está tudo bem.
Não devemos falar sobre suicídio, pois isso pode aumentar o risc.?
Falso. Falar sobre suicídio não aumenta o risco. Muito pelo contrário. Falar com alguém sobre o assunto pode aliviar a angústia e a tensão que esses pensamentos trazem.
O suicídio é uma decisão individual, já que cada um tem pleno direito a exercitar o seu livre arbítrio.
Falso. Os suicidas estão passando quase invariavelmente por uma doença mental que altera, de forma radical, a sua percepção da realidade, interferindo em seu livre arbítrio. O tratamento eficaz da doença mental é o pilar mais importante da prevenção do suicídio.
Sinais
De acordo com Danielle Admoni, alguns sintomas e comportamentos podem sinalizar que uma pessoa precisa de ajuda. “Tristeza profunda e contínua, apatia, desânimo, perda do interesse pelas atividades que gostava de fazer, pensamentos negativos, alterações do sono, falta de libido e falta de apetite são sinais de alerta. O indivíduo pode ter dificuldade de perceber ou até de reconhecer que há algo de errado”, afirma.
A médica lembra que as Unidades de Urgência e Emergência (geral e/ou psiquiátrica) e o CVV (Centro de Valorização da Vida) são os serviços de atendimento indicado para indivíduos que estão em situação de crise. “Ao menor sinal de alterações no comportamento compatíveis com as características citadas acima, é imprescindível buscar ajuda médica”, alerta a psiquiatra.