Continuando a nossa série de perfis do mês das mulheres, apresentamos Noriah Santos, mulher negra, baiana, 25 anos, historiadora e modelo internacional. Filha de Seu Jailson e Dona Ana, oriunda do município de Varzedo no Recôncavo da Bahia, da localidade rural chamada de São Roque. Noriah mudou-se para Santo Antônio de Jesus-Ba (SAJ) após aprovação no curso de história da UNEB em 2015 e assim começa sua trajetória como modelo.
Noriah não sabia que as passarelas seriam seu principal caminho. No mesmo ano que se mudou para Santo Antônio, a modelo participou do Pérolas Negras, um concurso de beleza negra que acontece em SAJ. Durante sua participação, ela se tornou um destaque, sendo o seu primeiro contato com esse universo. Desde então, a modelo continuou fazendo trabalhos na área, mas seu reconhecimento e valorização começou a vir depois. Hoje, a jovem acumula trabalhos com marcas famosas e reconhecidas, como Avon, Melissa, e desfiles nas principais semanas de moda no mundo.
Filha de uma família humilde “Meus pais sabiam como tornar o pouco em muito”, Noriah relembra como era a vida simples no interior, na zona Rural de Varzedo, mesmo que com poucos luxos, sempre foi uma criança muito feliz. Apesar do bullying ter sido parte dessa fase da sua vida, nada parou a criança sonhadora. “Minha casa não tinha piso, o chão era de cera vermelha e um dia minhas amigas foram em minha casa fazer trabalho de escola. No dia seguinte eu fui chacota no pátio do colégio por minha casa não ter piso”.
A modelo disse sempre ter sonhos e acreditar neles, mesmo que as pessoas não a incentivassem, dentro de si ela sempre se sentiu capaz de conseguir tudo que acreditava e sonhava.
“Nós, pessoas negras, sempre acabamos tendo um plano B caso o A não dê certo. Mas, graças a Deus, os dois estão dando certo”. Historiadora licenciada pela Universidade Estadual da Bahia (Uneb), com sua pesquisa voltada para a representação das mulheres negras nas capas das principais revistas do país, Noriah segue estudando, já que é uma de suas paixões. Atualmente, a jovem faz pós-graduação em comunicação e marketing.
Os estudos sempre foram plano A e B. Ela era incentivada pela família a estudar e ser professora, foi a primeira neta de sua avó e também a primeira de sua família a ter um diploma de nível superior em universidade pública. Durante o período da graduação, ela se manteve com a bolsa do IEEL, sendo professora estagiária nas escolas municipais da cidade.
Em 2019, no seu último ano de graduação, ao concluir o período, ela teve uma reviravolta na carreira como modelo. Convidada por uma agência, a jovem modelo vai para São Paulo onde “de cara” é convidada para um editorial de 10 páginas para a revista “Marie Clarie” e, em seguida, para desfilar na “São Paulo Fashion Week”.
No mesmo ano, Noriah saiu do Brasil e passou por países como a Alemanha (onde desfilou na semana de moda), Suíça, Etiópia e China, neste último fez uma temporada de 3 meses, mas precisou retornar ao Brasil por conta da pandemia.
O sucesso da jovem não parou: um de seus mais recentes trabalhos foi para a campanha da Avon para a linha de maquiagem de Julliete, campeã da edição do BBB 21. Na campanha, Noriah dividiu a capa com a estrela e foi destaque nas páginas da revista que chega para milhares de brasileiros.
Não foi fácil a trajetória da jovem garota que, desde muito cedo, conheceu as dificuldades e preconceitos: entre maquiadores que não tinham a base do seu tom e ela ouvia “vai lá, tá ótima sua pele sem maquiagem” ou que, depois de muitos anos alisando cabelo, na esperança de se aproximar e se encaixar em algum padrão, hoje depois de aceitar a real textura de seus fios e passar por situações de “ai, seu cabelo tá ótimo, não precisa de nada” e ela sozinha ter que arrumar o próprio cabelo para as sessões de fotos, ela não desistiu, pois seu sonhos e objetivos sempre foram maiores que tudo isso.
Em uma das situações contadas pela modelo, enquanto esteve na China, Noriah passou por uma forte cena de racismo. Segundo ela, não foi a primeira vez que passou pela crueldade do preconceito racial, mas nunca tinha acontecido de forma tão escancarada. Bateram, literalmente, uma porta na sua cara e falaram: “no black here” (“pretos aqui não” numa tradução literal). “Naquele momento, senti vontade desistir de tudo e parar com minha carreira” relata Noriah. Mas, passado o choque, Noriah não desistiu.
Que a história de Noriah Santos (@noriahsantos), uma mulher do Recôncavo da Bahia, que com apenas 25 anos já é historiadora e modelo internacional te inspire e te faça acreditar que o que seu sonhos podem se tornar realidade.
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